quinta-feira, 29 de abril de 2010

Pesquisa se despede de Itacoatiara (AM) e vê os estragos da cheia de 2009

Seguindo contra o fluxo do Amazonas após as rotas realizadas em Nova Sião e Santa Maria do Taboca, o barco Natureza chegou à Ilha de Januário e atracou à margem de Conceição I, comunidade que fica na face sul dessa ilha. A região fica no oeste do município de Itacoatiara, próximo à divisa com Manaus. Na terça-feira, dia 27, a pesquisa acompanhou uma rota escolar que leva alunos à escola municipal Eduardo Gomes, em Conceição I, e outra cujo ponto final é a escola Coelho Neto, na comunidade de São Sebastião, do outro lado do rio Amazonas.
São Sebastião fica em uma costa do Amazonas conhecida popularmente como Varre-Vento, certamente devido aos fortes ventos que ajudam a agitar as águas do rio. Assim como Conceição I, se trata uma comunidade simples com pouca estrutura, e só agora está ocorrendo a instalação de postes elétricos como parte do programa Luz para Todos, do Governo Federal.
Por enquanto a energia é gerada por motores de luz, como em diversas outras comunidades - inclusive as da Ilha do Januário. A prefeitura costuma mandar o diesel para o funcionamento desses motores, mas há sempre um horário definido pela comunidade para que eles sejam desligados.
Em Conceição I, as marcas da grande cheia de 2009 ainda são evidentes, principalmente na escola local. A marca da água passa de 1 metro de altura nas paredes de alvenaria, e a maioria das portas e janelas foi quebrada ou arrancada pela força do rio. Mesmo assim, com salas que não podem ser trancadas à noite, a escola segue funcionando. O esforço dos professores, funcionários, alunos e pais é o que faz as aulas acontecerem.
Portas de salas foram arrancadas ou quebradas pela cheia de 2009 em Conceição I.
Parte do material novo já foi recebido, mas não instalado. Fotos: Fábio Tito
Paixão pelo ensino
Apenas dois professores dão aulas nos turnos matutino e noturno em Conceição I. Eles são responsáveis, sozinhos, pelo ensino de 1º ao 9º ano em turmas multisseriadas e com o auxílio de DVDs do Telecurso. O aparelho de DVD foi doado pela família de uma aluna, e a TV, por um barqueiro local. Do ano passado para este, a escola saiu de apenas 20 alunos para 72 matriculados.
Lucinei Pacheco Farias, de 42 anos, é barqueiro da comunidade e atribui o aumento das matrículas à chegada de Paulo Roberto Oliveira de Souza, o professor Paulo. "Ele chegou à comunidade no final de 2009, e pouco depois já saiu de porta em porta fazendo a matricula dos alunos pro ano seguinte. Eu o ajudei nesse trabalho", explica o barqueiro.
O professor Paulo, de 35 anos, conta que esse serviço voluntário foi necessário para mostrar que a região possuía mais alunos que precisavam da escola, mas eles acabavam se deslocando até colégios mais distantes para estudar. "A escola estava abandonada, em grande parte por causa da administração da comunidade. Muitos moradores reclamam da atuação do presidente", afirma.
Professorzão: Paulo Roberto na escola em Conceição I e dando
aula como voluntário em São Sebastião. Fotos: Fábio Tito
Além de atuar como um dos dois professores em Conceição I, Paulo também trabalha voluntariamente à tarde na escola de São Sebastião, do outro lado do rio Amazonas. Ele chega a dar aulas durante 12 horas por dia. "Muitas vezes não consigo almoçar direito, não dá tempo. Mas é um esforço que vale a pena", afirma. A comunidade agradece. "Quando ele teve problemas com o presidente e pediu transferência, a comunidade se mobilizou e pediu que ele ficasse", conta o barqueiro Lucinei.
O presidente da comunidade, Damião da Silva Lima, foi procurado para comentar as reclamações dos moradores, mas ele não estava em casa no dia em que a equipe atuou na região.
Por Fábio Tito, de Itacoatiara

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