O barqueiro precisa sair de casa às 4h10 para cumprir a rota antes do início das aulas, o trajeto leva em torno de 2 horas e 30 minutos. Não é de se espantar que o homem reclame da dificuldade em manter a disciplina em meio a tantos estudantes, e por um período tão longo. "Ele contou que geralmente a viagem é uma bagunça, uma festa. Realmente são muitos adolescentes, é difícil de controlar", conta o pesquisador Marcelo Bousada.
A quantidade de alunos transportados no dia estava um pouco abaixo da média: eram 54. Mesmo assim, o caminho de volta não foi feito por uma, mas pelas duas lanchas escolares da pesquisa. Essas embarcações, que são protótipos sugeridos pelo Ministério da Educação, possuem apenas 20 lugares individuais.
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A exceção de uma rota com tantos alunos transportados tornou necessário usar as duas lanchas escolares para o trajeto de volta. Fotos: Fábio Tito |
Na tarde do mesmo dia, o barco Natureza saiu com os pesquisadores já em direção às comunidades de Sol Nascente e Sororoca, que ficam em uma região de lagos. Mesmo com o feriado do dia seguinte, 21 de abril (Tiradentes), a secretária municipal de Educação explicou que as aulas seriam normais. "Tivemos um atraso no início das aulas este ano, por isso os feriados estão sendo usados para reposição", afirma Maria Jacira.
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Troncos de árvore complicam o trajeto no Amazonas. Muitos são frutos de deslizamentos. Fotos (da esq. para a dir.): André di Monaco, Fábio Tito e Diego Baravelli |
A maior dificuldade das rotas acompanhadas na quarta-feira é que as duas têm que passar pelo rio Amazonas. Nesta época do ano, o rio está na cheia e seu leito é preenchido por troncos e vegetação de margens alagadiças ou de deslizamentos. "Tivemos que sair às 4h, ainda no escuro e chovendo, para nos encontrarmos com o barqueiro. Cruzar o Amazonas sob essas condições foi bastante tenso", afirma a pesquisadora Amanda Odelius.
Por Fábio Tito, de Urucará
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