segunda-feira, 19 de abril de 2010

Rotas escolares em Óbidos e a vida de um aluno cadeirante

A primeira atividade programada para a segunda-feira, dia 12, foi o encontro com o vice-prefeito de Óbidos, Rudimar Cardoso. Todos os pesquisadores de campo participaram da reunião, voltada principalmente para apresentar a pesquisa e posteriormente entrevistar o vice-prefeito, que então respondia como prefeito em exercício. Após a reunião, apenas Marcelo Bousada ficou para aplicar a entrevista, pois os outros pesquisadores tiveram que partir para preparar a saída das lanchas.
Alunos da escola Ruy Barata, em Mamauru, sentados
na escada do colégio. Foto: Diego Baravelli
As rotas acompanhadas eram no período vespertino, mas foi necessário sair ainda durante a manhã para acompanhar o trajeto dos barqueiros até escolas nas comunidades de Mamauru e Castanhanduba, na área de Igarapé Grande, a leste da sede de Óbidos. Importante observar que Castanhanduba é uma vila comunitária quilombola.
Após passar boa parte do dia no convívio das comunidades, os pesquisadores perceberam uma atitude diferente nas crianças. "Andando com um agente de saúde local, crianças bem pequenas vieram pedir a benção ao homem. Em seguida elas me cercaram fazendo o mesmo, estendendo as mãozinhas para mim", conta a pesquisadora Amanda Odelius. Desconsertada, ela não soube inicialmente como reagir ao costume local, mas logo pegou o jeito.
Na terça-feira, dia 13, quatro dos cinco pesquisadores precisaram madrugar para acompanhar rotas matutinas na comunidade de Silêncio e novamente em Mamauru. Como Castanhanduba, Silêncio também é um quilombola. Enquanto isso, a pesquisadora Ana Paula Antunes e o representante do blog TER Pesquisa foram conhecer Neilson Farias Ferreira, único aluno cadeirante do município.

Obstáculos para estudar
Aos 17 anos, Neilson acabou de cursar a 4ª série. Como sua casa fica na várzea do município, onde o calendário é adaptado à cheia do rio, ele começará a 5ª série ainda este ano, mas no segundo semestre. "Só comecei a estudar aos 12 anos, o que está fora do padrão estabelecido pelo MEC. O certo seria ter começado aos 6", afirma. Segundo o adolescente, o governo municipal atual deu mais condições para que ele conseguisse acompanhar os estudos.
Durante o período de aulas, o pai e o barqueiro precisam ajudá-lo a entrar e sair do barco, já que não há uma entrada adaptada. "E na escola os colegas também sempre me ajudaram bastante", lembra o aluno. A equipe da pesquisa levou o garoto para conhecer e dar um passeio na lancha usada como protótipo nas comunidades. "Como o barco, ela também não possui adaptação para cadeirantes, e isso deve ser levado em conta pela pesquisa", diz Marcelo Bousada, líder dos pesquisadores.
Na casa da avó, Neilson não faz questão de usar a cadeira-de-rodas.
O pai o ajuda no caminho até a beira do rio. Foto: Fábio Tito
O que Neilson gosta mais de fazer é ler. "Gosto do Menino Maluquinho, almanaques do Chico Bento... Também leio muito a Bíblia e livros de cantos (religiosos)", diz. Bem articulado e com excelente memória, ele comenta sobre política citando nome e sobrenome de ministros, senadores, deputados e políticos locais. Mas garante que não tem interesse em cargos públicos. "Quero ser advogado. Acho que muitas pessoas são prejudicadas porque não conhecem seus direitos", afirma o jovem.
Por Fábio Tito, de Óbidos

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