terça-feira, 27 de abril de 2010

Rotas escolares em Itacoatiara (AM) e os negócios de um novo empreendedor

O segundo município amazonense a ser visitado pela pesquisa de Transporte Escolar Rural foi Itacoatiara. O barco Natureza chegou ao porto na noite de quarta-feira, dia 21, após sair de Urucará no início da tarde subindo o rio Amazonas.
A cidade é uma das maiores do estado, com quase 90 mil habitantes, segundo o IBGE. São 140 escolas no interior do município e 17 na sede. Itacoatiara significa "pedra lavrada" em tupi, e o nome teve origem em uma rocha com escritos antigos encontrada no local, à margem do rio Amazonas. Durante o final da semana ocorreram as comemorações do aniversário de 136 anos de Itacoatiara, cuja data principal foi o dia 25 de abril, domingo.
A "pedra lavrada" que deu origem ao nome da cidade.
Supõe-se que os escritos foram feitos por jesuítas - e não por
índios nativos, como muitos acreditam. Foto: Fábio Tito
Na quinta-feira, a equipe se reuniu com o secretário municipal de Educação, Claudemilson Santos de Oliveira; o coordenador de transporte escolar, Celson Vilaça de Freitas; e Emanuel Viana de Souza, chefe de gabinete do prefeito da cidade. Após a apresentação do projeto, a programação das rotas a serem acompanhadas envolveu a ajuda de diversas pessoas da Secretaria Municipal de Educação, entre barqueiros, professores e subsecretários que conhecem bem as dificuldades da região.
Sentado à esquerda, o secretário de Educação do município
conversa com os pesquisadores sobre as rotas escolares. Diversos atores
da secretaria participaram da reunião. Foto: Fábio Tito
Ainda na tarde do mesmo dia, o barco da pesquisa se dirigiu à região do rio Arari, no sudeste do município, para fazer contato com barqueiros e combinar as rotas do dia seguinte. Duas escolas foram visitadas na sexta-feira (23), nas comunidades de Nossa Senhora de Fátima e Santa Rosa. Em Nossa Senhora de Fátima vive seu Santino, ex-barqueiro que fez o transporte de alunos na região por 11 anos. Agora ele se aventura pela primeira vez no comércio, em uma pequena mercearia que abriu dentro da própria casa.
A escola da comunidade de Nossa Senhora de Fátima.
Antes do início das aulas, crianças ficaram curiosas
com a presença dos pesquisadores. Fotos: Fábio Tito)
Novo empreendedor
Santino Lira Peixoto, de 46 anos, fica emotivo ao contar por que não é mais transportador escolar. "Um outro barqueiro achou que meu salário era bom, porque eu sempre ajudei quem precisa. Ele fez uma ata na comunidade dele pedindo que entrasse em meu lugar, foi uma confusão. Eu acabei abrindo mão e me afastei", afirma. Segundo ele, o salário líquido era de R$ 600, mas ele ainda tinha que pagar pelo combustível para o transporte. Isso implicava em um gasto de R$ 200 todo mês.
Para complementar a renda, o homem trabalhava em uma roça atrás da comunidade. "Enquanto os alunos tinham aula, eu ia para lá cuidar da roça. Fazia farinha de mandioca e vendia duas ou três sacas por mês em Itacoatiara, cada uma a R$ 180", conta. Uma saca tem volume de 80 litros.
Agora, no entanto, a preocupação maior de Santino é com a mercearia no térreo de sua casa, ao lado da escola de Nossa Senhora de Fátima. Ainda mais porque ele é iniciante no ramo do comércio, e está aprendendo na prática. "Sempre quis abrir um comércio aqui, até para facilitar a vida dos moradores. Comecei comprando os produtos que percebia que a comunidade precisava mais. E quando pediam algo que eu não tinha, avisava logo que na semana seguinte haveria", explica.
De olho nos negócios: Santino anota os pedidos da comunidade
para saber o que oferecer em sua mercearia. Foto: Fábio Tito
Os campeões de venda são os dindins e refrigerantes para alunos do colégio, e alimentos como frango congelado, linguiça e ovos para as famílias da comunidade. Em um mês, o investimento inicial já foi recuperado. E parece que Santino já pegou a visão necessária a um bom empreendedor. "Quero começar a comprar frutas da comunidade para vender em Itacoatiara (sede), tenho um cunhado lá que é feirante. Assim ganho dos dois jeitos, levando para lá e trazendo para cá", planeja, animado.
Por Fábio Tito, de Itacoatiara

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