segunda-feira, 19 de abril de 2010

Pesquisa acompanha as últimas rotas escolares no estado do Pará

Ainda na tarde de quarta-feira, dia 14, o barco Natureza se deslocou subindo o rio Nhamundá, no município de Faro (PA). O objetivo era chegar até um ponto intermediário entre as comunidades de Aibi e Mabaia, aonde os pesquisadores iriam em lanchas separadas para combinar o acompanhamento das rotas escolares do dia seguinte.

Os pesquisadores acompanharam o nascer do sol à beira da casa
de um barqueiro em Aibi, no município de Faro. Foto: Fábio Tito
Acabou-se descobrindo que não haveria aula na escola de Mabaia, e a única opção dos pesquisadores foi então acompanhar duas rotas diferentes para o mesmo colégio, em Aibi. A equipe acordou às 4h de quinta-feira (15) para encontrar os barqueiros no início das rotas, mas acabou tendo que esperar 1 hora além do combinado. Os condutores falaram do horário de saída referindo-se ao que eles chamam de "horário antigo", o mesmo seguido no Amazonas. Poucos anos atrás, o Pará teve seu horário atrelado ao de Brasília. Muitas comunidades do interior, no entanto, reclamam da mudança e algumas até continuaram seguindo o horário antigo.
Já no período da tarde, o barco da pesquisa seguiu em direção a Ubim e Maracanã, comunidades vizinhas mais próximas à sede de Faro. "As duas vilas possuem infraestrutura pouco mais desenvolvida que Aibi, provavelmente pela proximidade à sede e a Nhamundá", afirma o pesquisador André di Monaco. Nhamundá, além de ser o nome do rio, é também o nome de um município vizinho - e de sua sede, por tabela. As sedes de Faro e Nhamundá ficam próximas uma à outra.
Crianças da comunidade de Aibi aprovam a lancha escolar proposta pelo MEC. Foto: Fábio Tito
Merendeiras sem merenda
Em Ubim, comunidade habitada por em torno de 100 famílias, a escola Nossa Senhora de Fátima é comandada pelo gestor Éder Jofre Medeiros Pimentel, de 33 anos. Lá estudam 145 alunos do maternal à 8ª série, nos turnos matutino e vespertino. O gestor falou sobre um problema verificado em diversas outras escolas do estado, que é resolvido em parte pela iniciativa dos funcionários e alunos do colégio.
"Neste ano ainda não recebemos merenda escolar. Ela costuma vir apenas três ou quatro vezes por ano, e não dura sequer um mês quando chega", diz Éder. Segundo ele, os professores acabam juntando dinheiro entre si ou trazem frutas de casa para que haja merenda pela menos uma vez na semana, geralmente às sextas-feiras. "E quando tem aniversário de algum professor, os próprios alunos se juntam e pedem autorização para usar o forno da escola e fazer um bolo", acrescenta o gestor da escola.
O gestor, Éder, e as merendeiras, Gracenilda e Marta. A escola só
recebe merenda três ou quatro vezes por ano. Foto: Fábio Tito
A ironia é que, mesmo sem receber a merenda da prefeitura, o turno matutino do colégio é atendido por duas merendeiras concursadas - Gracenilda Rocha da Costa e Marta Helena Moraes Guerreiro. "Na maior parte do tempo trabalhamos como serventes, limpando salas e banheiros", conta Gracenilda. Ao mostrar uma panela usada pela última vez no ano passado, Marta limpa as teias de aranha que surgiram no fundo. "É tanto tempo sem usar que dá nisso", explica a merendeira.
Por Fábio Tito, de Faro

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