sexta-feira, 23 de abril de 2010

Urucará, primeiro município no Amazonas a ser visitado pela pesquisa

Os pesquisadores da pesquisa de Transporte Escolar Rural chegaram no último sábado (17) a Urucará, primeiro município amazonense da expedição. O caminho de Faro (PA) a Urucará foi feito saindo do rio Nhamundá e adentrando o rio Amazonas, subindo contra seu fluxo.
O porto de Urucará, no qual o barco Natureza
atracou durante o final de semana. Foto: Fábio Tito
A sede de Urucará fica localizada no extremo sul do município, assim como ocorre em Faro e Óbidos. Isso porque é ao sul desses municípios que passa o rio Amazonas, concentrando comércio e tráfego na região. Urucará fica à margem de um braço do rio Amazonas, chamado de paraná de Urucará.
Já no sábado de manhã, os pesquisadores receberam a secretária municipal de Educação, Maria Jacira, e o coordenador de transporte escolar, Manoel Benvindo, para uma reunião no barco Natureza. Após a apresentação da pesquisa e a programação das rotas a serem acompanhadas a partir do início da semana, foram feitas as entrevistas com os dois gestores e o levantamento da infraestrutura de Urucará.
Na folga de sábado à tarde, os pesquisadores conheceram a região de Taboari Grande, a oeste da sede do município. Segundo os locais, as margens arenosas são ainda mais extensas e bonitas durante a seca do rio.
O barco Natureza seguiu na segunda-feira (19) à tarde em direção às comunidades de São Lázaro e Nazaré, que ficam à beira do igarapé do Comprido, a leste da sede de Urucará. Lá, pela primeira vez a pesquisa acompanhou rotas noturnas. A possibilidade de ter aulas à noite foi o que fez Orlando dos Santos Serrão, agricultor de 46 anos, voltar a sonhar com a graduação do Ensino Médio.

Carapanãs e aula virtual
São 18h05 no horário do Amazonas quando Orlando entra com sua filha no barco escolar que os leva até a escola Nossa Senhora de Nazaré, na comunidade de Nazaré. Parece ser o horário de pico dos "carapanãs", vorazes mosquitos de beira de rio comuns em toda a região amazônica. O caminho no escuro é guiado pela lanterna de um dos filhos do barqueiro, que vai no bico do barco mirando obstáculos como tapagens ou troncos para alertar o pai. O silêncio é quebrado seguidamente pelo estalar das palmas matando carapanãs - nas pernas, nos pés, nos braços.
Orlando (dir.) adentra o barco escolar pouco antes de escurecer. À direita,
o filho do barqueiro ajuda iluminando o caminho no rio. Fotos: Fábio Tito
À porta da escola, Orlando conta que está na mesma série de Kiara, de 22 anos, única mulher dos quatro filhos do agricultor. "Estamos no último ano do Ensino Médio, em dezembro se Deus quiser nos formamos", diz o homem, animado. Seu único pesar é não estar acompanhado da esposa, Maria Eomelina dos Reis Pantoja. Ainda jovens, os dois pararam de estudar na 5ª série. Voltaram quando apareceu a oportunidade de estudar à noite na própria comunidade, quase 20 anos depois. "Fizemos juntos até a 8ª série e ela parou. Mas eu e minha filha continuamos, e tentamos convencê-la a voltar", afirma o marido.
Orlando e a filha, Kiara, no corredor da escola. Os dois pretendem se
formar no Ensino Médio ainda este ano. Foto: Fábio Tito
Enquanto isso, de dentro da sala soa uma melodia já conhecida dos alunos. É o hino do Amazonas, apresentado antes de cada aula. Quem observa a classe percebe que os olhos estão fixos não no professor, mas num grande monitor de tela plana. É uma turma de Ensino Presencial com Mediação à Distância, que assiste ao vivo à explicação sobre polinômios dada pela professora de matemática, transmitida direto de Manaus. O professor assistente em sala presta atenção à aula tanto quanto os alunos, e tira dúvidas nos momentos de exercícios. Uma webcam filma o ambiente, monitorado de Manaus assim como diversas outras turmas do município.
O professor assistente tira dúvidas
nos exercícios. Foto: Fábio Tito
"Foi uma ideia muito boa para gente simples como nós. Eu pude voltar a estudar sem parar com o trabalho, e minha filha não precisou ir para Urucará (sede) cursar o Ensino Médio", comenta Orlando. Segundo ele, é necessário um mínimo de 15 alunos para manter uma turma funcionando. "Não é difícil conseguir esse número aqui na comunidade, só espero convencer minha esposa a voltar no ano que vem. O conhecimento é muito importante para qualquer pessoa, independente do trabalho", afirma o agricultor.
Por Fábio Tito, de Urucará

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