terça-feira, 13 de abril de 2010

O interior de Aveiro e as dificuldades para acompanhar jogos de futebol

A quinta-feira (8), segundo dia de trabalho no município de Aveiro (PA), foi dedicada a acompanhar rotas escolares que levam às vilas de Fordlândia e Urucurituba. Os alunos são habitantes de vilas ribeirinhas à beira do Tapajós, em suas duas margens e em entradas criadas pela cheia do rio.
Fordlândia, cidade construída por americanos na primeira metade do século XX. Durante
a II Guerra Mundial, muitos seringueiros vendiam borracha à fábrica da Ford. Foto: Fábio Tito
De sua casa na comunidade de Campo Alegre, Breno Amorim Azulay precisa cruzar o rio de barco para chegar à escola Sagrado Coração de Jesus, em Fordlândia, onde cursa o 3º ano. Começando o último ano do Ensino Médio nesta semana - o início das aulas estava atrasado -, o rapaz já tem planos para o futuro. "Quero fazer Administração em Santarém, e depois eu e meu primo temos vontade de abrir uma loja de informática por lá mesmo ou em Itaituba", afirma. Breno já fez três cursos na área em Aveiro, aonde costuma ir duas vezes por mês.
Sobre a escola, ele conta da mudança que houve do ano passado para este. "Agora as aulas vão ser em módulos, uma disciplina por vez. Os professores dão aula da mesma matéria por algumas semanas, aplicam todas as provas e seguem para outras comunidades", explica. O problema é que, pelo menos nesta primeira semana, Breno está tendo que esperar na escola antes de ter aula. "Hoje ficamos esperando até as 16h, porque os professores estavam dando aula para as outras séries", diz, já no caminho de volta para casa.

Vaquinha para ver futebol
Não é difícil descobrir o time da paixão de Breno, já que seu caderno é coberto de adesivos com o escudo da equipe. "Sou corintiano fanático, o difícil é que lá onde moro a maioria é flamenguista", afirma em tom de brincadeira. O jovem conta que há 4 meses a prefeitura parou de mandar óleo diesel para o motor gerador de energia da comunidade. Quando tem jogo da Libertadores, juntamos dinheiro para comprar óleo e assistir. Mas tenho que ver o jogo do Flamengo mesmo, que quase sempre é o que transmitem. Fico sabendo do Corinthians só no intervalo", diz, insatisfeito.
Breno fez questão de se vestir o uniforme para a foto.
Ao fundo, o rio por onde ele vai à escola. Foto: Fábio Tito
São necessários 3 litros de diesel para ver a partida inteira, e o litro é vendido a R$ 2,50. "Fico bravo quando espero para ver os gols do Corinthians no intervalo e eles não mostram, dá vontade até de desligar o motor", brinca. Seu sonho é ver um Corinthians e Flamengo da arquibancada do estádio, e de preferência com o Timão ganhando. "A maioria dos meus primos é flamenguista, eu iria tirar muita onda com a cara deles", diz.

Vida de trabalho

Nascido em Cajazeiras, interior da Paraíba, José Avelino da Silva está com 86 anos e é o bisavô do corintiano Breno. O senhor mora em Campo Alegre desde os cinco anos de idade, quando seu pai se mudou com a família para a Amazônia. "Naquela época, quando o povo queria viajar pra Amazônia, ia primeiro consultar o Padre Cícero. Papai foi lá e teve a benção", conta.
A família veio atrás das promessas da borracha, que pagava muito bem aos seringueiros. Mas José lembra que sua experiência profissional começou ainda antes, na Paraíba. "O primeiro serviço que fiz foi aos cinco anos, colhendo algodão com meu pai. É o serviço mais fácil que tem na agricultura, porque não tem o trabalho de preparar o produto depois que colhe", afirma.
Seu José mora na Amazônia há 81 anos. Ele perdeu um dedo
do pé devido a uma picada de cobra. Foto: Fábio Tito
Como seringueiro, os momentos mais traumáticos foram com cobras venenosas. "Quase morri três vezes, já fui picado por salamanta, surucucu e jararaca. Naquele tempo não tinha bota, a gente trabalhava descalço mesmo", explica. Foi numa dessas que ele perdeu o dedinho do pé, que ficou necrosado após a picada. Mas saúde ainda há de sobra. "Ele ajuda nas tarefas, até hoje corta toco pra fazer lenha. Só não faz mais coisa porque meus avós não deixam", revela o bisneto.
Por Fábio Tito, de Aveiro

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