quarta-feira, 28 de abril de 2010

Percurso estreito em uma rota escolar e os remédios caseiros de Maria das Dores

Após passar o sábado, dia 24, na sede de Itacoatiara (AM), os pesquisadores se dirigiram já no domingo para o oeste do município, e visitaram as comunidades de Nova Sião e Santa Maria do Taboca.
Em Nova Sião, a rota escolar acompanhada passa por trechos estreitos, que o barqueiro faz em uma canoa com um motor de rabeta. Apesar das dificuldades devidas ao maior tamanho e ao motor de popa, a lancha escolar proposta pelo MEC conseguiu cumprir o trajeto de entrega dos alunos sem maiores problemas. Veja abaixo os trechos do percurso do barco local e da lancha passando por uma parte desta rota.
Santa Maria do Taboca fica dentro de uma reserva indígena à beira do rio Urubu, e é habitada por descendentes das tribos Mura (predominante) e Sateré. Azamor da Cruz Rosa Filho, de 33 anos, é o líder comunitário local há dez anos e explicou um pouco sobre a reserva indígena. "São 10 comunidades indígenas na região. A escola de Santa Maria do Taboca possui 70 alunos, tanto da própria comunidade quanto de Nova Jerusalém do Maquira, do outro lado do rio", afirma. Dos 70 estudantes, 45 usam o transporte escolar de barco para ir estudar.
Rota em Santa Maria do Taboca: à esquerda, a filha da barqueira ajuda
nas manobras de chegada e saída com um remo. De longe, o pequeno
barco já cheio parece sumir na água. Fotos: Fábio Tito
Tradição do passado, adaptada
A mãe de Azamor é Maria das Dores Rosa, de 74 anos. Sua simples casa de madeira possui apenas um cômodo - de um lado o fogão, do outro uma mesa e três cadeiras. Se falta lugar para sentar, o bujão de gás faz o serviço. As redes ficam esticadas no teto para não atrapalhar o trânsito das pessoas, e visita ali é o que não falta. "Além dos filhos e netos, os vizinhos também sempre passam para bater papo", conta a senhora.
As muitas amizades se devem não só à simpatia da mulher, mas também a um certo serviço que ela presta a quem precisa, como avisou o filho. "Ela é muito boa em fazer remédios caseiros. E funcionam mesmo!", afirma Azamor. Dona Maria confirma: "Sempre funcionou - desde a primeira vez que fiz, aos 17 anos. É como um dom de Deus, sabe?"
Mas se as curandeiras índias de antigamente acreditavam nos espíritos da natureza, Maria das Dores tem crenças diferentes. Ela é evangélica, e volta-e-meia cita trechos ou histórias da Bíblia. "Me converti aos 37 anos, mas acredito que mesmo antes disso era Deus quem me mostrava os remédios para as doenças", diz.
Dona Maria das Dores, especialista em remédios caseiros.
Segundo ela, a inspiração vem de Deus. Foto: Fábio Tito
Aos 17 anos de idade, ela conta que sua mãe adoeceu de febre por cinco dias seguidos, o corpo começou a inchar e ela não conseguia mais comer. "Eu estava caminhando no sítio do meu tio e vi uma planta que me chamou atenção. Veio na minha mente uma voz dizendo que aquele era o remédio para a minha mãe. Foi o primeiro milagre que Deus fez na minha vida", afirma. Dona Maria explica que preparou um banho quente com uma planta rosa, conhecida na região como "quina". Logo depois do banho a mãe já conseguia caminhar novamente, e melhorou por completo dentro de pouco tempo.
Tirando uma ou duas receitas que aprendeu da boca do povo, a mulher afirma que é sempre Deus quem mostra a planta e a maneira de prepará-la. Em uma breve conversa, ela conta de gente febril sendo curada com folhas de mangueira, tuberculosos tratados com agrião, e por aí vai. "Deus usa os filhos dele de diversas maneiras. Se ele me deu um dom, eu vou usá-lo para falar de Jesus às pessoas através disso", afirma a senhora.
Por Fábio Tito, de Itacoatiara

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