terça-feira, 13 de abril de 2010

Pesquisa do Transporte Escolar Rural chega a Aveiro, no Pará

Após cruzar os limites do município de Santarém, o barco de pesquisadores do transporte escolar chegou ao município de Aveiro, ainda no estado do Pará. A equipe atracou em Tavio, vila que fica à margem do rio Tapajós, e novamente se dividiu em duas para acompanhar diferentes rotas escolares dentro do município, até colégios que ficam nas comunidades de Açaituba e Tavio.
O barco Natureza, atracado à margem
da comunidade de Tavio. Foto: Fábio Tito
Na cidade de Aveiro, sede do município, membros da equipe estiveram com Gilmar Lira Lopes, secretário municipal de Educação. Ela falou sobre a situação das escolas e mostrou dados sobre alunos do município. "Mais de 550 estudantes usam o transporte escolar todos os dias. E em torno de 80% das rotas são feitas em embarcações", afirma.
Os pesquisadores Marcelo Bousada, Ana Paula Martins e Diego Baravelli acompanharam a curta rota matutina que leva alunos do Lago do Tavio até Tavio. O trajeto, que de barco demora 1 hora e 20 minutos, levou apenas 20 minutos com a lancha usada de protótipo na pesquisa.
Em Açaituba, que fica à beira do rio Cupari, os pesquisadores André di Monaco e Amanda Obélius acompanharam a longa rota do barqueiro que sai às 10h da manhã para apanhar 17 alunos do turno vespertino, habitantes de comunidades que ficam ao longo do mesmo rio. O barco chega de volta a Açaituba pouco antes da aula começar, às 12h40.

Brincadeiras
A comunidade tem muitas crianças, que a princípio apenas observam de longe, tímidas. Mas após qualquer sinal de amizade elas já cercam os visitantes, mostrando as brincadeiras e posando para fotos. Cada clique era seguido de um coro de "Cadê? Cadê?", dos meninos querendo se ver no visor da câmera. Para brincar de pular corda e futebol, eles vão até a escola pedir corda e bola emprestados. No pique-bandeirinha, eles escolhem dois galhos do mato e os colocam em pontos distantes da área aberta entre o rio e a vila. Alguns meninos menores abrem mão dos jogos e preferem brincar na lama, formada pela chuva de mais cedo.
Crianças de Açaituba se divertem com jogos e brincadeiras. Foto: Fábio Tito
Volta aos estudos
Ainda pela manhã, o pesquisador Diego Baravelli chamou a atenção para algo que ouviu na escola de Tavio. "Nos contaram que algumas meninas têm deixado de estudar bem cedo, aos 12 ou 13 anos, porque decidem se casar", relata. Foi mais ou menos o que aconteceu 17 anos atrás com Maria Katicilene Matias Pereira, moradora de Godinho, comunidade à beira do rio Cupari. "Quando engravidei e tive meu primeiro filho, ficou muito difícil de ir à escola e acabei largando os estudos", lembra.
Katicilene e os três filhos que ainda moram com ela. A pequena
venda fica na sala de entrada da casa. Foto: Fábio Tito
Hoje aos 32 anos e com quatro filhos, Katicilene é merendeira da escola de Ensino Básico de sua comunidade e está estudando novamente. "Três anos atrás, acabei a 3ª e a 4ª séries na EJA (Educação para Jovens e Adultos), e este ano comecei a 5ª série na escola em Açaituba", afirma. Ela vai ao colégio de barco com dois de seus filhos e frequenta a mesma turma da filha mais nova. Mesmo estando agora mais próxima, a mãe estudante considera que acompanhava melhor os estudos dos filhos antes, quando apenas trabalhava. "Eu tinha mais tempo para isso. Agora não consigo nem eu mesma estudar direito", diz, rindo.
O motivo para voltar a estudar é simples. "Pelo conhecimento, que é muito importante", resume. Além de trabalhar como merendeira, Katicilene tem uma pequena venda em casa, a qual abastece com alimentos o vilarejo onde a família mora. "No futuro a gente pensa em mudar, talvez no ano que vem. Gostaria de abrir uma loja em Santarém. Não quero ser empregada, quero ser empregadora", planeja.

Pais e alunos de Tavio, no município de Aveiro, se reuniram para
saber sobre a pesquisa de Transporte Escolar Rural. Foto: Fábio Tito
Apresentação
Ao fim do dia, a equipe apresentou o DVD da pesquisa sobre ônibus rural para a comunidade de Tavio. Os ribeirinhos se reuniram em uma sala da escola, onde a apresentação foi projetada. Marcos Fleming, responsável por todas as frentes da pesquisa sobre transporte escolar, mostrou o balanço como modelo do que se pretende fazer com os dados adquiridos no acompanhamento de rotas escolares hidroviárias. O coordenador geral de apoio à manutenção escolar do FNDE, José Maria Rodrigues, também acompanhou a apresentação.
Por Fábio Tito, de Aveiro

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