terça-feira, 13 de abril de 2010

Comunidades de Santarém recebem os pesquisadores

Seguindo contra o fluxo do  rio Tapajós no município de Santarém (PA), a equipe de pesquisadores do CEFTRU atracou na madrugada desta terça-feira, dia 6, em uma prainha próxima à vila de Boim. Foram acompanhadas as rotas de barco que levam às escolas São Raimundo Nonato e Santo Inácio Loyola, respectivamente nas comunidades de Nova Vista e Boim.
Um fato importante observado em Santarém é que as escolas deste município estão servindo merenda, prática que não era comum em locais visitados anteriormente. As instalações em geral são boas, a escola Santo Inácio Loyola, por exemplo, possui biblioteca e sala de informática. Por outro lado, as aulas no Ensino Médio lá mesmo em Boim ainda não haviam começado. Estavam marcadas para iniciar na quarta-feira, dia 7 de abril.
Ao chegar em Nova Vista, as crianças precisam pisar
na água para descer do barco. Foto: Fábio Tito
Em Nova Vista, a secretária Marilene Rodrigues Xavier, de 26 anos, falou ao blog TER Pesquisa. Ela sempre viveu em uma comunidade próxima chamada Nuquini, que hoje abriga 45 famílias, mas lembra que as dificuldades para estudar eram maiores no passado. "Eu acordava às 4h da manhã e levava 2 horas de bicicleta para chegar à escola. Tenho um irmão mais novo que, de barco, faz a mesma distância em 30 minutos".
Marilene considera que o caminho árduo no passado fazia com que os alunos levassem mais a sério os estudos. "Hoje, com as facilidades, tem menino que chega até a escola e prefere matar aula. Acho que falta acompanhamento dos pais, que deveriam demonstrar interesse no aprendizado dos filhos indo às reuniões no colégio, cobrando leitura, taboada...", afirma.

Lendas e folclore
Esberty Xavier da Rocha, mais conhecido em Nova Vista por Seu Bebé, não aparenta os 79 anos que carrega. Ele é o pai de Deusa, merendeira da escola São Raimundo Nonato, e foi ela que avisou que o pai é bom de conversa. Seu Bebé e a mulher, dona Diva, 77, recebem as visitas de forma humilde e atenciosa sentados à mesa de madeira ao lado da cozinha, e não demoram a engatar nas histórias. "Estamos com 54 anos e seis meses de casados", afirma o senhor. "Está certinho!", a esposa confirma.
Perguntado sobre as lendas e histórias do passado, Esberty recorda de trabalhar no mato como seringueiro e ouvir barulhos estranhos ao redor. "Era grito, assovio, cantoria de galo no meio do dia, batidas no chão. E também tinha gente que falava na Curupira, que endoidecia os homens com o canto dos passarinhos e fazia com que eles perdessem o rumo", conta. "Mas é só não mexer com esses bichos que eles não te perseguem."
Seu Bebé lembra de diversas histórias antigas dos quase oitenta anos vivendo no interior. Foto: Fábio Tito
A história contada com mais convicção pelo casal é a de duas cobras irmãs que viviam pela região. "Uma mulher pariu as cobras lá na comunidade de Apaci, que também fica na beira do (rio) Tapajós. Uma se chamava Noratinho, a outra, Maria", diz Esberty. "A mãe os criou numa cumbuca e até os amamentava", completa a mulher. Segundo eles contam, Noratinho fazia o bem e Maria fazia o mal. Quando eles cresceram e não couberam mais na cumbuca, a mulher os soltou no mato.
"Eles viviam brigando muito pelas matas, o pessoal de vez em quando ouvia as brigas. Até que uma vez, depois de três dias de luta, Noratinho matou Maria", relata dona Diva, sem sombra de dúvidas. "De vez em quando o Noratinho baixa nos cordões dos curadores da região", afirma seu Bebé. Os 'curadores' são curandeiros, que usam magia para sarar o povo de doenças e para outros fins. No passado, essas figuras eram mais comuns nas comunidades do interior da Amazônia.
Por Fábio Tito em Santarém

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