quinta-feira, 27 de maio de 2010

A rotina de uma aluna no interior do Maranhão

Ainda na zona rural de Santa Rita, no Maranhão, os pesquisadores conheceram a estudante Elaine Rocha Cereja, de 11 anos. A menina não só usa a bicicleta para ir às aulas toda tarde, mas também faz o transporte dos dois irmãos mais novos, que estudam de manhã. O blog TER Pesquisa acompanhou um pouco da rotina de Elaine e de sua família.
A casa é humilde. O chão é de terra batida, as paredes são parte de pau-a-pique, parte feitas apenas com galhos presos horizontalmente - em alguns lugares não chegam sequer à altura do teto, que é de palha. Porta de entrada não tem. E pela casa, do lado de dentro mesmo, são pelo menos três bicicletas encostadas pelos cantos.
Laura usa um balde para dar banho nos filhos mais
novos, na abertura da sala de casa. Foto: Fábio Tito
Quem geralmente acorda Elaine já às 5h30 é a mãe, Laura Rocha Cereja, de 35 anos. A menina não tem um quarto, a rede é esticada na sala mesmo, ao lado das redes de seus dois irmão mais novos: Eliezer, de sete anos, e Mateus, de quatro. "Tenho que acordá-los bem cedo, que é pra dar tempo de se arrumarem e chegarem na escola. Eles têm que sair daqui no máximo às 6h", explica Laura. O café-da-manhã é uma xícara de café puro para cada um, e logo é hora de partir.
Além das três crianças, a mulher também é mãe de Elias, de 14 anos, Anália, de dois, e está no oitavo mês de gravidez aguardando outra menina. Elias costuma revezar com Elaine no transporte dos irmãos mais novos - um leva e o outro busca. "Na ida tem que ser a Elaine, porque o Elias tem mais preguiça de acordar e na volta faz mais sol, cansa mais. Mas tem vez em que a Elaine é quem leva e busca", afirma a mãe.
A primeira etapa do caminho até a escola é feita a pé. Fotos: Fábio Tito
O começo do caminho é feito a pé por uma trilha, Elaine empurra a bicicleta e os meninos seguem em seu encalço. A "estrada" que leva até a casa é um grande atoleiro, e qualquer chuva gera muita lama - por isso o melhor é ir pela trilha. "É muito ruim, dá trabalho acordar cedo e levar os garotos porque a escola fica muito longe, cansa bastante", afirma a menina.
Elaine e os irmãos no embalo de uma descida. O trajeto fica
mais fácil no trecho feito de bicicleta. Foto: Fábio Tito
E não é em qualquer bicicleta que os três irmãos conseguem andar. "Tem que ser da maior, que tem garupa grande. Hoje a que eles usam está emprestada, então vão ter que ir com a minha", afirma Raimundinho, marido de Laura. Ele é o pai de Mateus, Anália e do bebê que está a caminho. "Mas cuida de todos da mesma maneira", aponta a mulher.
Apesar das dificuldades, Elaine gosta de estudar. "Minha matéria preferida é história. Gosto de estar na escola, o problema é mesmo a distância. Às vezes dá muita preguiça", confessa. A mãe diz que há alunos na região que abandonaram os estudos. "Desistir é fácil. Eu brigo pra que meus filhos continuem, assim podem ter uma condição melhor no futuro. Aqui nós vivemos bem, mas é uma vida de muito trabalho", conta.
Por Fábio Tito, de Santa Rita
Edição: Elza Pires de Campos

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