quinta-feira, 13 de maio de 2010

Equipe realiza rotas em Codajás (AM) e antecipa ida ao município de Coari

Como planejado no dia anterior, a pesquisa acompanhou rotas escolares em comunidades do Lago do Miuá na terça-feira, dia 11. Uma equipe se dirigiu à escola Monteiro Lobato, em Taracuá, que é atendida por um dos seis barcos escolares contratados pela prefeitura para realização do transporte. Na rota acompanhada são levados 10 alunos e sobra espaço na embarcação, situação contrastante com a outra rota vista no mesmo dia.

Alunos embarcam para o transporte até a escola Monteiro Lobato em
um dos barcos contratados para o serviço. Foto: André di Monaco
A outra equipe de pesquisa analisou uma realidade que já havia sido apontada pelos gestores durante a reunião do final de semana. Na comunidade de São Francisco do Lago do Miuá, o barqueiro local afirma que realiza voluntariamente há sete anos o transporte escolar até a escola Eunice Pereira Quintino, e só recebe do município o auxílio em forma de combustível.
Elias Quinto dos Santos, de 47 anos, leva as crianças ao colégio em uma canoa com um pequeno motor de rabeta. Cheia, a embarcação quase desaparece rente à linha da água, e qualquer ondulação maior que o normal no lago representa um risco. Apesar de a escola funcionar normalmente, os alunos transportados por seu Elias só vão às aulas durante 13 dias por mês. "É só o que dá pra fazer com os 25 litros de gasolina que a prefeitura me dá. Não tenho condições de tirar do próprio bolso para completar o mês", afirma o condutor.
O barco de seu Elias fica rente à água
quando está cheio. Foto: Fábio Tito
Após o acompanhamento das rotas do dia, os coordenadores da pesquisa decidiram antecipar a ida ao município de Coari devido à pouca complexidade existente em Codajás. Coari possui uma malha fluvial mais extensa e situações diferentes que prometem contribuir melhor para os objetivos da pesquisa.

Gasoduto Coari-Manaus
Elias dos Santos é também líder da comunidade de São Francisco, que é habitada por 13 famílias. Ele afirma que a pequena vila fica a menos de 5 km do gasoduto Coari-Manaus, e por isso foi beneficiada em um programa de desenvolvimento sustentável do estado em parceria com a Petrobras. "Em 2007 a comunidade recebeu uma ambulancha e um motor para serrar mandioca. Além disso, a casa de farinha foi reformada, e o valor total desses investimentos foi de R$ 14 mil", afirma o líder.
A placa do lado de fora indica o programa em parceria com a Petrobras.
A casa de farinha foi reformada através desses recursos, direcionados a
comunidades próximas ao gasoduto Coari-Manaus. Fotos: Fábio Tito
Mas segundo ele, na época foi dito que o investimento local seria de R$ 25 mil - quantia que nunca foi alcançada. Seu Elias afirma também que participou em 2009 de uma reunião na sede do município, onde a coordenadora do programa disse aos líderes comunitários que novos recursos haviam sido liberados. "Ouvimos dizer que algumas comunidades receberam investimentos em fevereiro deste ano, mas por enquanto nós não recebemos nada", conta.

Presença da malária
Quando chegou à região com a família, 25 anos atrás, seu Elias conta que a presença da malária já era forte. "O povo nem sabia o nome da doença, costumavam chamar de 'cesão'. Morria muita gente que vinha explorar os seringais por aqui", lembra. Ele cita os sintomas que conhece bem: "Dá uma tremedeira, febre de 40º. Depois de três ou quatro dias, a pessoa já fica com feição de morto."
Elias dos Santos em frente ao posto de saúde de São Francisco,
construído em 2007 após um surto de malária na região. Foto: Fábio Tito
Nos anos de 2005 e 2006, a comunidade passou por um surto de malária. O líder comunitário conta que quase todos os moradores pegaram a doença uma ou duas vezes por ano. "Meu irmão era professor aqui e foi um dos casos mais graves, pegou malária sete ou oito vezes nesses dois anos. Eu mesmo já não sei mais quantas vezes peguei a doença até hoje. Foram mais de 10", afirma seu Elias.
Por Fábio Tito, de Codajás
Edição: Elza Pires de Campos

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