quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pesquisa chega a Iranduba (AM) para acompanhar as primeiras rotas escolares

O caminho entre Manaus e Iranduba foi feito ainda na tarde de domingo, dia 2 de maio. O barco Natureza passou a noite ancorado no lago Janauary, que é ligado a um paraná do rio Solimões conhecido como furo do Paracuuba. É à beira desse canal que se encontra a escola Nossa Senhora da Conceição, na comunidade de Santo Antônio, uma das visitadas pela pesquisa na manhã de segunda-feira (3).
Além dessa rota, a pesquisa acompanhou também o trajeto de um transportador escolar que leva alunos ao lago Catalão, onde fica a escola Nossa Senhora Aparecida. Ao redor do lago, as comunidades têm uma característica que chama atenção: a grande maioria das habitações é flutuante, inclusive o colégio local. Foi a primeira escola flutuante visitada na expedição.
A escola flutuante Nossa Senhora Aparecida, no lago Catalão. Pelas
frestas no piso é possível ver a água do rio. Fotos: Fábio Tito.
Lá, uma característica já verificada em outras comunidades da Amazônia dificultou o trabalho da equipe. Não há aula no dia em que sai o pagamento dos funcionários da escola, porque eles se dirigem à sede do município para sacarem o dinheiro e fazerem transações bancárias. Devido a atrasos nos pagamentos, não tem sido possível estabelecer um dia exato para que a escola fique sem aula. Nem todos na comunidade ficaram sabendo a tempo que o salário havia saído durante o final de semana, e alguns alunos foram à toa até o colégio.
De início, a equipe também estava desavisada do fato, mas mesmo assim foi possível acompanhar a rota com o barqueiro local e fazer as entrevistas necessárias para a pesquisa. Na escola visitada pela outra equipe de pesquisadores, dois professores também haviam ido à cidade receber o salário, mas eles foram substituídos pela secretária e pelo diretor do colégio.
Joaquim dos Santos, de 41 anos, é o diretor da escola Nossa Senhora da Conceição e presidente da comunidade de Santo Antônio. Ele falou sobre um problema que tem amedrontado os moradores da região, principalmente os que têm filhos transportados de barco até a escola.

Navegação perigosa e as terras caídas
Quando a barqueira local chega à margem de Santo Antônio, Joaquim dos Santos já está lá para ajudar no desembarque dos alunos. Ele observa preocupado enquanto a pequena embarcação de alumínio sobe pelo furo do Paracuuba, um braço do rio Solimões que se forma durante a cheia. Não bastasse a correnteza intensa no local, há também o tráfego de diversas lanchas de passageiros. Isso principalmente no início da manhã e no horário de almoço, que são as horas em que se realiza o transporte escolar.
As crianças transportadas já saem de casa usando o colete
salva-vidas. À direita, o barco segue cheio enquanto uma lancha
de passageiros vem veloz à frente. Fotos: Fábio Tito
Essas lanchas de passageiros são embarcações compridas com motores potentes, que levam pessoas de Manaus até o alto do Solimões e vice-versa. "Elas passam sempre em alta velocidade, e a onda gerada é um perigo para os pequenos barcos que levam as crianças", afirma o diretor da escola. O medo é tanto que a comunidade criou um hábito raro nos municípios visitados pela pesquisa. Cada criança tem seu próprio colete salva-vidas. Quando o barco passa para apanhá-las, elas já saem de casa vestindo o acessório de segurança.
O diretor da escola em Santo Antônio, Joaquim dos Santos. À direita,
crianças vestem seus coletes antes de voltar para casa. Fotos: Fábio Tito
Margem próxima à escola - os deslizamentos
são constantes. Foto: Fábio Tito
Os problemas gerados pela velocidade das lanchas de passageiros vão além do risco ao transporte escolar. Segundo os moradores, os chamados "barcos a jato" alteram até a geografia do local. "Esse tipo de lancha só começou a circular neste trecho do ano de 2000 para cá. As ondas que elas produzem aceleram o deslizamento das margens, e a largura do canal cresceu de 15 para 150 metros nesses 10 anos", conta Joaquim. Como presidente da comunidade, ele luta há anos para que seja instalada sinalização que estabeleça limites de velocidade no local.
Por Fábio Tito, de Iranduba

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