sexta-feira, 18 de junho de 2010

Paixão por bicicletas (e som automotivo) em Arapongas

Hiogo e a bicicleta da pesquisa.
Ao fundo, as outras bicicletas
da família. Foto: Fábio Tito
Um dos alunos que participou da pesquisa sobre bicicleta escolar em Arapongas foi Hiogo Murilo da Luz, de 15 anos - um verdadeiro apaixonado por bicicletas. "As duas coisas que eu gosto mais são bicicleta e som automotivo", conta. Desde o ano passado, Hiogo trabalha como aprendiz durante a tarde na oficina de marcenaria do pai, que fica ao lado de casa. E ele gosta de investir parte do salário em suas duas paixões.
Mas enquanto os gastos com som automotivo vão para o carro do pai, as modificações na bicicleta parecem ser mais bem aproveitadas pelo garoto. "Já troquei aros, guidão, pés de vela, pedais, banco, pneus, corrente, manetes e outras coisinhas. Em um ano foram mais de R$ 1 mil nessas alterações", afirma. E Hiogo faz jus aos investimentos. "Pedalo pela cidade inteira - dependendo do dia, ando mais de 10 km. E tenho amigos que gostam também, sempre vamos ao Parque dos Pássaros para fazer manobras", diz, animado.
Quando um pneu fura, é o próprio garoto quem
faz o conserto na oficina do pai. Foto: Fábio Tito
A facilidade de ter a oficina do pai ali ao lado também é usada em favor da paixão do adolescente. "Quando o pneu fura, eu mesmo conserto aqui na oficina. Só quando é alguma coisa mais séria que eu levo pro bicicleteiro", explica. Até na bicicleta da pesquisa Hiogo fez uns ajustes. "O paralamas estava saindo fácil e pegando no pneu da frente, mas apertei uns parafusos e ficou melhor", diz. Ele elogiou a bicicleta testada, mas não substituiria a sua tão cedo. "Fiz as modificações na minha e a deixei do jeito que eu queria, personalizada. Mas a bicicleta da pesquisa é boa, com certeza muitos alunos gostariam de ter uma", considera.
Por Fábio Tito, de Arapongas
Edição: Elza Pires de Campos

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Equipe da região Sul chega a Arapongas (PR) para realizar pesquisa da bicicleta escolar

No sábado, dia 5 de junho, a equipe da região Sul na frente de pesquisa da bicicleta escolar chegou a Arapongas, interior do Paraná. A ideia inicial era realizar o estudo no município de Astorga, a 14 km da cidade. Entretanto, o uso da bicicleta não é muito comum em Astorga, enquanto as bikes fazem parte da paisagem em Arapongas - o que levou a coordenação da pesquisa a substituir um município pelo outro no trabalho.
Rente ao estacionamento específico para motos, um homem utiliza a ciclofaixa. À direita, uma das esquinas preenchidas por bicicletas no centro de Arapongas. Fotos: Fábio Tito
Bicicletas e motos preenchem as ruas, por vezes fazendo dos carros minoria. Algumas vias principais possuem ciclofaixa, e nas esquinas do centro há pontos de estacionamento de bicicletas. Apesar de Arapongas parecer uma ótima cidade para receber a pesquisa, não foi bem isso que disse Irahi Germanovisk, secretária municipal interina de Educação. A equipe conversou com a secretária na manhã de segunda-feira (7). "Aqui o transporte escolar é todo feito por ônibus, vans e kombis. Os pais preferem desta forma, porque é mais seguro - tanto na zona urbana quanto na rural", antecipou.
No mesmo dia, os pesquisadores conheceram Leandro Camparoti, coordenador de transporte escolar em Arapongas e professor da rede pública. "Mesmo na zona urbana, é comum que o ônibus ou a van apanhe alunos que moram próximos à escola, no mesmo bairro. É uma comodidade. Mas há escolas que têm, sim, estudantes que preferem pedalar", conta.
O bicicletário da escola não fica lotado, mas mostra que
há quem prefira pedalar para ir às aulas. Foto: Fábio Tito
Foi através da indicação do professor que a equipe chegou à escola estadual Júlia Wanderley, no centro de Arapongas. As bicicletas no pátio mostravam que havia trabalho pela frente. Após fazer entrevistas com a diretora e uma professora da escola, a equipe entrevistou dez alunos que não utilizam a bicicleta para ir às aulas.
Quanto aos que costumam pedalar até o colégio, é a diretora ou a professora entrevistada quem geralmente indica esses alunos para participarem do estudo e testarem uma bicicleta da pesquisa. No mesmo dia a equipe vai até a casa de cada aluno para convidá-lo a participar do estudo, entrevista o pai ou a mãe e entrega a bicicleta para ser usada no dia seguinte.
Por Fábio Tito, de Arapongas
Edição: Elza Pires de Campos

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Após último dia de pesquisa, Porto Velho (RO) recebe as lanchas escolares usadas na expedição

O ônibus que faz a segunda parte
do trajeto na rota acompanhada
pela pesquisa. Foto: Diego Baravelli
Na quarta-feira (2), último dia em campo da frente de pesquisa do barco escolar, a equipe acompanhou uma rota escolar que leva alunos até a escola municipal Chiquilito Erse. O colégio fica na comunidade de Aliança, localizada à margem do rio Madeira e a 50 km da cidade de Porto Velho. Na rota, o ponto final do percurso feito no rio Madeira não é a escola. Os alunos fazem de lancha apenas a primeira parte do trajeto, e depois seguem de ônibus por estradas de terra até o colégio.
O blog TER Pesquisa visitou a escola municipal Deigmar Moraes de Souza, na comunidade de Cujubim Grande, e viu como programas federais têm ajudado a melhorar não só a vida escolar, mas também comunitária no local. Luiz Pereira Braga, de 51 anos, é o diretor do colégio e falou sobre as oficinas extracurriculares oferecidas no programa Mais Educação. "Estamos com a oficina de horta e vamos começar outras, como música e dança. As melhorias já são visíveis no desempenho, comportamento e assiduidade dos alunos", afirma. São 120 estudantes inscritos no programa. As atividades são sempre no horário oposto às aulas, e alguns recebem o almoço na escola para não precisarem voltar para casa no meio tempo.
Alunos participam da oficina de horta, parte do
programa Mais Educação. Foto: Fábio Tito
Marcos Fleming (dir.) entrega as chaves das lanchas escolares
a Edimar Oliveira no porto da cidade. Foto: Fábio Tito
Na tarde do mesmo dia, a equipe foi até o porto da cidade para a entrega das lanchas testadas ao longo dos quase três meses de pesquisa em campo. Marcos Fleming, coordenador do estudo, entregou as chaves das duas embarcações a Edimar Oliveira, chefe de aparelhamento de projetos especiais da Secretaria Municipal de Educação. Por possuir sistema terceirizado de transporte escolar, a secretaria ainda estuda a maneira como as lanchas escolares serão utilizadas para implementar melhorias nesse sistema.
Por Fábio Tito, de Porto Velho
Edição: Elza Pires de Campos

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Equipe chega a Porto Velho (RO), último município visitado pela frente de pesquisa do barco escolar

Após a realização da pesquisa em Tefé, no Amazonas, a equipe de pesquisa do barco escolar navegou de volta a Manaus a bordo do barco Natureza. Lá, a embarcação de apoio da expedição foi desmontada e a equipe seguiu de avião até Porto Velho, último município a ter rotas escolares de barco acompanhadas pelo estudo. As lanchas escolares usadas na pesquisa foram enviadas de balsa até a capital de Rondônia, trajeto que demorou seis dias para ser feito.
A secretária de Educação de Porto Velho, Maria
de Fátima Pereira de Oliveira. Foto: Fábio Tito
Na segunda-feira, dia 31 de maio, a equipe entrevistou a secretária municipal de Educação, Maria de Fátima Ferreira de Oliveira. Ela falou sobre a complexidade do transporte escolar em Porto Velho, que envolve embarcações, ônibus e bicicletas distribuídas pela secretaria. "O transporte escolar rodoviário e fluvial é todo realizado por empresas terceirizadas há mais de cinco anos, e isso permitiu que saíssemos de 2 mil estudantes transportados para os mais de 9 mil alunos atendidos atualmente", afirma. Ela acredita que a melhora na administração do transporte tem ligação direta com o aumento de alunos nas escolas.
Crianças descem por íngremes barrancos para embarcar no transporte escolar. O solo é muitas vezes argiloso e escorregadio. Foto: Diego Baravelli
Fátima também explicou que as maiores dificuldades atualmente dizem respeito ao transporte rodoviário, por conta das condições precárias de diversas estradas e das longas distâncias. Nas primeiras rotas de barco acompanhadas pela equipe na terça-feira, 1º de junho, o que chamou a atenção foram os grandes barrancos que várias crianças têm que encarar para embarcar no transporte para a escola. Neste dia, a pesquisa visitou as escolas Deigmar Moraes de Souza e Ermelindo Brasil, respectivamente nas comunidades de Cujubim Grande e São João Batista, à margem do rio Madeira.
Por Fábio Tito, de Porto Velho
Edição: Elza Pires de Campos

terça-feira, 1 de junho de 2010

Ubatuba, no litoral norte paulista, impressiona pelo número de bicicletas nas escolas

Não foi difícil constatar a predominância das bicicletas no transporte em Ubatuba, litoral norte de São Paulo. A equipe da região Sudeste na frente de pesquisa da bicicleta escolar chegou à cidade na terça-feira, dia 25, e ficou impressionada com o enorme bicicletário da escola municipal Presidente Tancredo de Almeida Neves.
Mais de 300 bicicletas preenchem o bicicletário durante
a manhã na escola Tancredo Neves. Foto: Fábio Tito
 Segundo a diretora do colégio, Maria de Fátima Souza Barros, mais de 80% dos alunos pedala para ir às aulas. "É um excelente meio para chegar à escola. Além de ser ecologicamente correto, garante a atividade física e promove a saúde dos alunos", afirma. Ela cita um exemplo de como a bicicleta é de fato parte da cultura local. "Sempre que fazemos alguma festa com sorteio, colocamos uma bicicleta como prêmio. É o que faz mais sucesso entre as crianças", conta.
Durante a passagem por Ubatuba, o blog TER Pesquisa acompanhou a rotina de Antônio Carlos do Carmo Júnior, de 13 anos, em seu trajeto até a escola. Ele mora com os pais no bairro de Perequê-Açu, e pedala todo dia até o Centro, onde fica o colégio Tancredo Neves. Ana Cristina Araújo Silva, de 37 anos, é a mãe de Antônio e explica que há pouco mais de um ano a bicicleta passou a ser o principal meio de transporte do filho. "Só a partir de 2009 começamos a deixar o Júnior fazer esse trajeto todo dia. Antes ele ainda era muito novo, e o trânsito aqui é perigoso", afirma a mãe, zelosa.
Hoje o adolescente chega a percorrer a distância entre a casa e a escola até seis vezes no mesmo dia, quando há atividades à tarde e/ou à noite. "O pessoal que anda de bike realmente não costuma respeitar algumas regras. É comum ver gente andando na contramão ou fora das ciclovias, atrapalhando o trânsito", afirma Antônio.
Na saída do colégio, a esquina é preenchida por diversas bicicletas. Antônio aprovou a bicicleta testada durante a pesquisa. Foto: Fábio Tito
Antônio testou o protótipo da bicicleta escolar proposta pelo MEC na quarta-feira (26), e elogiou o desempenho da bicicleta. "Ela é bem leve e fácil de pedalar. Não tem marchas como a minha, mas aqui em Ubatuba o terreno é muito plano então não faz diferença", avalia.
Por Fábio Tito, de Ubatuba
Edição: Elza Pires de Campos

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Pesquisa da bicicleta na região Sudeste visita Redenção da Serra, no interior de São Paulo

Após passar a primeira semana de pesquisa no município de São Fidélis, no Rio de Janeiro, a equipe da região Sudeste na frente da bicicleta escolar chegou a Redenção da Serra, em São Paulo, no domingo, dia 23 de maio. Como o próprio nome diz, o município de pouco mais de 4 mil habitantes fica em região serrana, mais especificamente no Vale do Paraíba Paulista.
O que levou a pesquisa a Redenção foi a constatação de que, em 2008, o governo estadual doou 251 bicicletas a estudantes da zona rural do município, justamente para facilitar o transporte à escola. Mas a primeira observação da equipe ao chegar à pequena cidade foi a inexistência de pessoas usando bicicletas - nem sequer nas estradas próximas.
O professor Edson Matos, diretor do
colégio estadual. Foto: Fábio Tito
Quem explicou o ocorrido foi Edson Carneiro Matos, diretor da única escola estadual em Redenção. "A distribuição de bicicletas em 2008 contemplou alunos que moravam a mais de 2 km de distância da escola. Construímos um bicicletário na escola logo em seguida, mas até hoje ele nunca foi usado", afirma o diretor. A região possui muitas inclinações, e as ruas de pedra em Redenção devem proporcionar descidas radicais e subidas mortificantes para qualquer ciclista que se aventure. "Além dessa dificuldade do terreno, também falta acostamento nas estradas e muitas vezes é preciso andar sobre cascalho, o que dificulta a pedalada", acrescenta Edson.
Alguns estudantes da zona rural chegaram a testar a bicicleta da pesquisa, após uma longa procura pelas estradas de terra que levam aos sítios do interior. Mas diante da dificuldade de aplicar a pesquisa no município, a equipe dicidiu já na terça-feira (25) se dirigir a Ubatuba, no litoral norte paulista - a menos de 100 km de Redenção da Serra. Lá a pesquisa seria feita pelo resto da semana.
Alunos da zona rural de Redenção da Serra testam as bicicletas da pesquisa.
A mãe, ao fundo, acompanhou o trajeto dos filhos. Foto: Fábio Tito

Respeito e paixão pela escola
A conversa com o diretor da Escola Estadual Cel. Queiroz, no entanto, foi bastante enriquecedora e valeu a visita ao município. Edson Carneiro Matos, de 44 anos, é diretor há oito anos, mas explica que sua história com o colégio vai muito além disso. "Passei 13 anos estudando aqui, depois me formei professor e dei aulas por 13 anos, também nesta escola. Então trabalhei por três anos em outros municípios e voltei para assumir como diretor", conta.
O pátio da escola em Redenção da Serra. Ao centro a
equipe de pesquisa durante a visita. Foto: Fábio Tito
Segundo ele, o respeito aos professores e à escola é muito maior no interior. "Aqui temos orgulho de pertencer ao colégio, a comunidade tem muito respeito. Na cidade grande a escola perdeu o papel de centro da comunidade. Nem a igreja exerce mais essa função", afirma. Segundo ele, o respeito se evidencia nas condições do colégio, de fato impecáveis. "Pintamos as paredes já há alguns anos, e simplesmente não existe pixação. E nos oito anos na direção, se trocamos três vidros quebrados, foi muito."
Edson mostra o primeiro livro
de ponto da escola, com data
de 1914. Foto: Fábio Tito
Um quartinho no canto do pátio guarda algo que Edson preserva como o guardião de um tesouro. São os livros de ponto do colégio, cujos primeiros registros datam do ano de 1914. "A escola foi fundada nesse ano, ainda em outro local, e se mudou pra cá em 1978 devido a uma enchente. Ainda tem muita coisa antiga que estou tentando organizar, isso faz parte da história de Redenção", afirma o diretor, eterno professor e aluno da escola.
Por Fábio Tito, de Redenção da Serra
Edição: Elza Pires de Campos

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A rotina de uma aluna no interior do Maranhão

Ainda na zona rural de Santa Rita, no Maranhão, os pesquisadores conheceram a estudante Elaine Rocha Cereja, de 11 anos. A menina não só usa a bicicleta para ir às aulas toda tarde, mas também faz o transporte dos dois irmãos mais novos, que estudam de manhã. O blog TER Pesquisa acompanhou um pouco da rotina de Elaine e de sua família.
A casa é humilde. O chão é de terra batida, as paredes são parte de pau-a-pique, parte feitas apenas com galhos presos horizontalmente - em alguns lugares não chegam sequer à altura do teto, que é de palha. Porta de entrada não tem. E pela casa, do lado de dentro mesmo, são pelo menos três bicicletas encostadas pelos cantos.
Laura usa um balde para dar banho nos filhos mais
novos, na abertura da sala de casa. Foto: Fábio Tito
Quem geralmente acorda Elaine já às 5h30 é a mãe, Laura Rocha Cereja, de 35 anos. A menina não tem um quarto, a rede é esticada na sala mesmo, ao lado das redes de seus dois irmão mais novos: Eliezer, de sete anos, e Mateus, de quatro. "Tenho que acordá-los bem cedo, que é pra dar tempo de se arrumarem e chegarem na escola. Eles têm que sair daqui no máximo às 6h", explica Laura. O café-da-manhã é uma xícara de café puro para cada um, e logo é hora de partir.
Além das três crianças, a mulher também é mãe de Elias, de 14 anos, Anália, de dois, e está no oitavo mês de gravidez aguardando outra menina. Elias costuma revezar com Elaine no transporte dos irmãos mais novos - um leva e o outro busca. "Na ida tem que ser a Elaine, porque o Elias tem mais preguiça de acordar e na volta faz mais sol, cansa mais. Mas tem vez em que a Elaine é quem leva e busca", afirma a mãe.
A primeira etapa do caminho até a escola é feita a pé. Fotos: Fábio Tito
O começo do caminho é feito a pé por uma trilha, Elaine empurra a bicicleta e os meninos seguem em seu encalço. A "estrada" que leva até a casa é um grande atoleiro, e qualquer chuva gera muita lama - por isso o melhor é ir pela trilha. "É muito ruim, dá trabalho acordar cedo e levar os garotos porque a escola fica muito longe, cansa bastante", afirma a menina.
Elaine e os irmãos no embalo de uma descida. O trajeto fica
mais fácil no trecho feito de bicicleta. Foto: Fábio Tito
E não é em qualquer bicicleta que os três irmãos conseguem andar. "Tem que ser da maior, que tem garupa grande. Hoje a que eles usam está emprestada, então vão ter que ir com a minha", afirma Raimundinho, marido de Laura. Ele é o pai de Mateus, Anália e do bebê que está a caminho. "Mas cuida de todos da mesma maneira", aponta a mulher.
Apesar das dificuldades, Elaine gosta de estudar. "Minha matéria preferida é história. Gosto de estar na escola, o problema é mesmo a distância. Às vezes dá muita preguiça", confessa. A mãe diz que há alunos na região que abandonaram os estudos. "Desistir é fácil. Eu brigo pra que meus filhos continuem, assim podem ter uma condição melhor no futuro. Aqui nós vivemos bem, mas é uma vida de muito trabalho", conta.
Por Fábio Tito, de Santa Rita
Edição: Elza Pires de Campos

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Frente da bicicleta escolar acompanha alunos em Santa Rita, interior do Maranhão

Antônia se prepara para voltar para casa na
bicicleta testada pela pesquisa. Foto: Fábio Tito
Durante a primeira das cinco semanas em campo, a equipe responsável pela região Nordeste na frente de pesquisa da bicicleta escolar está no município de Santa Rita, no interior do Maranhão. No início da semana eles entrevistaram alunos da escola Doutor Clodomir Pinheiro Costa, na zona rural do município, e viram de perto como a bicicleta ajuda a deixar um pouco mais fácil o caminho até a escola.
Antônia Miguelina Mendes, de 16 anos, foi uma das alunas que participou da pesquisa. Na terça-feira, dia 18, ela testou a bicicleta proposta pelo Ministério da Educação (MEC), e diz ter gostado da experiência. "A bicicleta é muito boa, bem melhor do que a que tem aqui em casa", afirma. E segundo Antônia, não é todo dia que ela pedala até a escola. "Às vezes alguém da família precisa da bicicleta, e eu tenho que pegar carona na garupa da minha prima", explica a jovem.
Muitas crianças caminham grandes distâncias até chegar à escola. À direita, Antônia e a prima dela testam as bicicletas do projeto. Fotos: Fábio Tito
A avó de Antônia é Ernestina Alves, de 64 anos. "É vó e mãe", brinca a neta, que foi criada pela senhora. Ernestina mora no vilarejo de Santa Rosa desde criança, e contou um pouco sobre a vida na região para o blog TER Pesquisa. "a gente vive de roça e pesca. Plantamos arroz, milho, mandioca, feijão... Tudo pro consumo próprio. E o melhor pescador da casa é o compadre", diz.
Compadre Valdeci prepara o cofo enquanto
conversa à porta de casa. Foto: Fábio Tito.
O "compadre" é Valdeci Munim Mendes, de 65 anos, que mora com a família de Ernestina. Enquanto conversa, ele tece um acessório para a pesca. "Isto aqui é um cofo, a gente usa pra guardar os peixes dentro d'água", explica o homem. "Aqui em casa todo mundo pesca", acrescenta Antônia. O cofo é feito com a folha da palmeira de babaçu, chamada de pindova na região. Valdeci rapidamente constroi o que parece um cesto fundo de palha, do tamanho que ele usa para guardar peixes maiores. "Faço também uns menores pros meninos, eles não aprendem a fazer por conta própria. Eu mesmo não tive ninguém que me ensinou, aprendi sozinho", afirma.
Por Fábio Tito, de Santa Rita
Edição: Elza Pires de Campos

Pesquisa acompanha rotas em Coari e segue para Tefé, último município visitado no Amazonas

Após sair de Codajás, o barco Natureza continuou a expedição subindo o rio Solimões e chegou ao minicípio de Coari ainda na noite de terça-feira, dia 12 de maio. No dia seguinte, em reunião com gestores na Secretaria Municipal de Educação, a equipe foi informada que a zona rural do município possui 152 escolas, cujo transporte escolar é feito por 212 canoas, 71 barcos e 358 condutores. Localmente, as canoas são chamadas de "catraias", e os condutores, inclusive os de barcos, são os "catraieiros".
Coari: algumas ruas terminam na beira do rio, de onde é possível ver os inúmeros flutuates boiando à margem da cidade. Fotos: Fábio Tito
"Estamos justamente no período de pagamento dos catraieiros e de fornecimento de combustível para o serviço. Por isso, muitas escolas na zona rural estão sem aula", explica Selionete Guimarães, secretária municipal de Educação. Como em outros locais visitados pela pesquisa, os condutores precisam ir uma vez por mês à sede do município para receber o salário - período no qual muitas escolas ficam fechadas.
Na quinta-feira (13) à tarde, os pesquisadores Marcelo Bousada e André di Monaco foram visitar algumas comunidades próximas a Coari em busca de barqueiros. Eles queriam saber se ali, devido à proximidade com a sede, já estaria havendo aula. Acabaram ficando por lá mesmo, na comunidade de Nossa Senhora de Fátima. "No meio da tarde começou uma rota escolar para o período noturno, e aproveitamos para acompanhá-la para a pesquisa", explica Marcelo. Durante a noite ocorreu também a festa pelo Dia de Nossa Senhora de Fátima, padroeira da comunidade.
No mesmo dia, a equipe ficou sabendo do acidente de avião que causou a morte da secretária de Educação do Amazonas, Cinthia Régia do Livramento, além de outros quatro membros da secretaria estadual. Foi decretado luto de três dias no Amazonas. Mesmo assim, ainda foi possível acompanhar outra rota escolar até a escola em Nossa Senhora de Fátima durante a manhã de sexta-feira (14).
Com isso foi possível verificar diferenças entre o transporte escolar pago pelo estado e peno município. Para o Ensino Médio (à noite), o transporte é fornecido pelo governo do estado, enquanto o município oferece o transporte para os níveis Básico e Fundamental (durante o dia). Após a segunda rota, a equipe de pesquisa decidiu então seguir já no sábado rumo a Tefé, que fica em torno de 18 horas distante, de barco, subindo o rio Solimões. Após o trabalho em Tefé, a ideia é retornar a Coari e completar o acompanhamento do município cumprindo novas rotas.
A escola Raimundo Moreira da Silva, na comunidade de Nossa Senhora de Fátima, visitada na manhã de sexta-feira (14). À direita, uma aluna é levada para casa na lancha escolar do MEC. Fotos: Diego Baravelli
O barco Natureza chegou a Tefé na manhã de domingo, dia 16. Durante a noite, a equipe se reuniu para a despedida do coordenador da pesquisa, Marcos Fleming. Ele deixou o barco na segunda-feira para acompanhar por duas semanas a frente de pesquisa da bicicleta escolar no interior do Maranhão e de São Paulo, e depois recompor a equipe do barco já em Porto Velho (RO).
Tefé é o último município no Amazonas a ser visitado pela frente de pesquisa do barco escolar, que parte depois em direção a Manaus - fazendo parada em Coari, como já apontado. De Manaus, a pesquisa segue para Porto Velho, em Rondônia, para acompanhar as últimas rotas aquaviárias do projeto. Além do encerramento da frente de pesquisa, ocorrerá também a doação das lanchas usadas no trabalho para o transporte escolar no município de Porto Velho.
Por Fábio Tito, de Tefé
Edição: Elza Pires de Campos

sábado, 15 de maio de 2010

"Caminhe" pelo barco Natureza, casa da equipe de pesquisa do transporte escolar aquaviário

Veja o vídeo abaixo e conheça a estrutura do barco Natureza. Ele tem servido de casa para a equipe da frente de pesquisa do barco escolar desde o início de março de 2010. O barco conta com três pisos, cozinha, banheiros, áreas de trabalho e lazer, entre outras estruturas. A filmagem foi feita no porto da Vila do Jacaré, interior do município de Manacapuru (Amazonas).