Ainda na zona rural de Santa Rita, no Maranhão, os pesquisadores conheceram a estudante Elaine Rocha Cereja, de 11 anos. A menina não só usa a bicicleta para ir às aulas toda tarde, mas também faz o transporte dos dois irmãos mais novos, que estudam de manhã. O blog
TER Pesquisa acompanhou um pouco da rotina de Elaine e de sua família.
A casa é humilde. O chão é de terra batida, as paredes são parte de pau-a-pique, parte feitas apenas com galhos presos horizontalmente - em alguns lugares não chegam sequer à altura do teto, que é de palha. Porta de entrada não tem. E pela casa, do lado de dentro mesmo, são pelo menos três bicicletas encostadas pelos cantos.
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Laura usa um balde para dar banho nos filhos mais
novos, na abertura da sala de casa. Foto: Fábio Tito |
Quem geralmente acorda Elaine já às 5h30 é a mãe, Laura Rocha Cereja, de 35 anos. A menina não tem um quarto, a rede é esticada na sala mesmo, ao lado das redes de seus dois irmão mais novos: Eliezer, de sete anos, e Mateus, de quatro. "Tenho que acordá-los bem cedo, que é pra dar tempo de se arrumarem e chegarem na escola. Eles têm que sair daqui no máximo às 6h", explica Laura. O café-da-manhã é uma xícara de café puro para cada um, e logo é hora de partir.
Além das três crianças, a mulher também é mãe de Elias, de 14 anos, Anália, de dois, e está no oitavo mês de gravidez aguardando outra menina. Elias costuma revezar com Elaine no transporte dos irmãos mais novos - um leva e o outro busca. "Na ida tem que ser a Elaine, porque o Elias tem mais preguiça de acordar e na volta faz mais sol, cansa mais. Mas tem vez em que a Elaine é quem leva e busca", afirma a mãe.
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A primeira etapa do caminho até a escola é feita a pé. Fotos: Fábio Tito |
O começo do caminho é feito a pé por uma trilha, Elaine empurra a bicicleta e os meninos seguem em seu encalço. A "estrada" que leva até a casa é um grande atoleiro, e qualquer chuva gera muita lama - por isso o melhor é ir pela trilha. "É muito ruim, dá trabalho acordar cedo e levar os garotos porque a escola fica muito longe, cansa bastante", afirma a menina.
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Elaine e os irmãos no embalo de uma descida. O trajeto fica
mais fácil no trecho feito de bicicleta. Foto: Fábio Tito |
E não é em qualquer bicicleta que os três irmãos conseguem andar. "Tem que ser da maior, que tem garupa grande. Hoje a que eles usam está emprestada, então vão ter que ir com a minha", afirma Raimundinho, marido de Laura. Ele é o pai de Mateus, Anália e do bebê que está a caminho. "Mas cuida de todos da mesma maneira", aponta a mulher.
Apesar das dificuldades, Elaine gosta de estudar. "Minha matéria preferida é história. Gosto de estar na escola, o problema é mesmo a distância. Às vezes dá muita preguiça", confessa. A mãe diz que há alunos na região que abandonaram os estudos. "Desistir é fácil. Eu brigo pra que meus filhos continuem, assim podem ter uma condição melhor no futuro. Aqui nós vivemos bem, mas é uma vida de muito trabalho", conta.
Por Fábio Tito, de Santa Rita
Edição: Elza Pires de Campos
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