Após passar a primeira semana de pesquisa no município de São Fidélis, no Rio de Janeiro, a equipe da região Sudeste na frente da bicicleta escolar chegou a Redenção da Serra, em São Paulo, no domingo, dia 23 de maio. Como o próprio nome diz, o município de pouco mais de 4 mil habitantes fica em região serrana, mais especificamente no Vale do Paraíba Paulista.
O que levou a pesquisa a Redenção foi a constatação de que, em 2008, o governo estadual doou 251 bicicletas a estudantes da zona rural do município, justamente para facilitar o transporte à escola. Mas a primeira observação da equipe ao chegar à pequena cidade foi a inexistência de pessoas usando bicicletas - nem sequer nas estradas próximas.
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O professor Edson Matos, diretor do
colégio estadual. Foto: Fábio Tito |
Quem explicou o ocorrido foi Edson Carneiro Matos, diretor da única escola estadual em Redenção. "A distribuição de bicicletas em 2008 contemplou alunos que moravam a mais de 2 km de distância da escola. Construímos um bicicletário na escola logo em seguida, mas até hoje ele nunca foi usado", afirma o diretor. A região possui muitas inclinações, e as ruas de pedra em Redenção devem proporcionar descidas radicais e subidas mortificantes para qualquer ciclista que se aventure. "Além dessa dificuldade do terreno, também falta acostamento nas estradas e muitas vezes é preciso andar sobre cascalho, o que dificulta a pedalada", acrescenta Edson.
Alguns estudantes da zona rural chegaram a testar a bicicleta da pesquisa, após uma longa procura pelas estradas de terra que levam aos sítios do interior. Mas diante da dificuldade de aplicar a pesquisa no município, a equipe dicidiu já na terça-feira (25) se dirigir a Ubatuba, no litoral norte paulista - a menos de 100 km de Redenção da Serra. Lá a pesquisa seria feita pelo resto da semana.
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Alunos da zona rural de Redenção da Serra testam as bicicletas da pesquisa.
A mãe, ao fundo, acompanhou o trajeto dos filhos. Foto: Fábio Tito |
Respeito e paixão pela escola
A conversa com o diretor da Escola Estadual Cel. Queiroz, no entanto, foi bastante enriquecedora e valeu a visita ao município. Edson Carneiro Matos, de 44 anos, é diretor há oito anos, mas explica que sua história com o colégio vai muito além disso. "Passei 13 anos estudando aqui, depois me formei professor e dei aulas por 13 anos, também nesta escola. Então trabalhei por três anos em outros municípios e voltei para assumir como diretor", conta.
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O pátio da escola em Redenção da Serra. Ao centro a
equipe de pesquisa durante a visita. Foto: Fábio Tito |
Segundo ele, o respeito aos professores e à escola é muito maior no interior. "Aqui temos orgulho de pertencer ao colégio, a comunidade tem muito respeito. Na cidade grande a escola perdeu o papel de centro da comunidade. Nem a igreja exerce mais essa função", afirma. Segundo ele, o respeito se evidencia nas condições do colégio, de fato impecáveis. "Pintamos as paredes já há alguns anos, e simplesmente não existe pixação. E nos oito anos na direção, se trocamos três vidros quebrados, foi muito."
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Edson mostra o primeiro livro
de ponto da escola, com data
de 1914. Foto: Fábio Tito |
Um quartinho no canto do pátio guarda algo que Edson preserva como o guardião de um tesouro. São os livros de ponto do colégio, cujos primeiros registros datam do ano de 1914. "A escola foi fundada nesse ano, ainda em outro local, e se mudou pra cá em 1978 devido a uma enchente. Ainda tem muita coisa antiga que estou tentando organizar, isso faz parte da história de Redenção", afirma o diretor, eterno professor e aluno da escola.
Por Fábio Tito, de Redenção da Serra
Edição: Elza Pires de Campos